Sem que nos apercebamos, aquilo a que até há poucos anos chamávamos ficção científica, passou a fazer parte do nosso quotidiano, tomando conta das nossas vidas. A condição humana, dotada dessa vita ativa que, segundo Ana Arendt, nos inunda de necessidades, é subitamente exposta a uma tecnologia que confunde o humano com o não-humano. É assim que uma máquina, como dizia Alan Turing, acaba por ser inteligente, isto é, quando não a conseguimos distinguir de uma pessoa. Esta circunstância está a tornar-se familiar numa infinidade de sistemas de assistência, aplicações informáticas e todo o tipo de objectos que usamos diariamente.

Agora, qual é a abordagem que a Antropologia oferece perante a revolução tecnológica da inteligência artificial, como é que vai modificar a forma como fazemos investigação, se vai realmente ter um impacto relevante na etnografia, o que é que temos de aprender e o que é que temos de manter, ou talvez, como profissionais da Antropologia, já tenhamos começado o processo de adaptação a este novo cenário?

No X Congresso Internacional de Antropologia da AIBR propomo-nos abordar este tipo de questões partindo do conceito: “Inteligência Antropológica”. Trata-se de uma expressão antiga, inicialmente utilizada para definir a colaboração da antropologia com as agências de inteligência militar, mas agora reinventada como uma resposta disciplinar à maré tecnológica que se aproxima. A antropóloga e jornalista britânica Gillian Tett entende-a como uma capacidade que temos para a análise profunda, para aquela descrição densa popularizada por Gilbert Ryle e Clifford Geertz, e que hoje os antropólogos aplicam para que o Big Data seja entendido como Thick Data.

Trata-se de um tema apaixonante que abre certamente muitos caminhos para a discussão científica. É também um tópico especial para um Congresso especial, pois após a maravilhosa experiência que foi o Congresso de 2023 na Cidade do México, anunciamos com imenso orgulho que nossas reuniões internacionais estão agora em seu décimo ano.

Neste aniversário tão importante, quisemos regressar á cidade onde tudo começou em 2015, a Madrid. E fazemo-lo num cenário magnífico, a Faculdade de Geografia e História da Universidade Complutense de Madrid, que será a anfitriã e co-organizadora desta nova reunião da AIBR.

Convidamo-vos a celebrar o X Congresso Internacional da AIBR e a continuar a celebrar a Antropologia desta forma.