CONFERÊNCIA
DE ENCERRAMENTO

PEDRO PITARCH

     Universidade Complutense de Madrid

Sexta-feira, 12 de julho de 2024

17:30

Professor de Antropologia das Américas na Universidade Complutense de Madrid; doutorado em Antropologia pela Universidade Estadual de New York. Professor convidado nas universidades de Nova Iorque, Califórnia Berkeley, UNAM, CIESAS, Iberoamericana, EHESS, Museu Nacional do Rio de Janeiro. A sua principal área de trabalho etnográfico são as populações maias de Chiapas, onde tem trabalhado continuamente desde 1988. A sua investigação centra-se em questões de cosmologia, pessoalidade e corporeidade nas culturas mesoamericanas. No âmbito desta linha, trabalhou sobre o discurso indígena e os textos rituais, a tradução de conceitos entre línguas ameríndias e europeias, a natureza das utopias e dos mundos virtuais, e o lugar da crença e da verdade no pensamento indígena. Estudou também questões de etnopolítica, a representação cultural dos direitos humanos entre as populações indígenas e as influências recíprocas entre as culturas ameríndias e a modernidade ocidental. De 2002 a 2013, foi responsável por um projeto de cooperação a longo prazo com crianças indígenas Tzotzil e Tzeltal para testar a literacia destas línguas nas escolas da região de Chiapas, desenvolvido em conjunto com a Universidade Autónoma de Chiapas. Os seus livros incluem: Ch’ulel: una etnografía de las almas tzeltales (1996, FCE), The Jaguar and the Priest (2010, Univ. of Texas Press), La cara oculta del pliegue (2013, Artes de México), La palabra fragante, Cantos chamánicos tzeltales (2013, Artes de México). Es coordinador de: Human Rights in the Maya Region (2012, Duke University Press), Modernidades indígenas (2014, Iberoamericana), The Culture of Invention in the Americas (2018, Kingston), y Mesoamérica. Ensayos de etnografía teórica (2020, Nola).

O trickster da antropologia

Proponho aqui uma analogia entre a antropologia como disciplina acadêmica e a figura do trickster. No folclore de grande parte do mundo, mas especialmente na mitologia indigena americana, o trickster é caracterizado como uma espécie de contra-personagem. Ao contrário dos personagens sérios e que estabelecem a ordem que ele às vezes confronta, ele é uma figura um tanto cômica e grotesca, geralmente um pequeno animal sem força, cuja especialidade é brincar com o equívoco, a transformação e, em geral, desestabilizar o mundo. Entretanto, graças a essa condição, ele é capaz de inventar coisas novas que são úteis para os seres humanos. Da mesma forma, nas ciências sociais e humanas, a antropologia tem funcionado ao longo de sua história como uma “contra-disciplina” dedicada a contrariar disciplinas “sérias” como a filosofia, a ciência política, a sociologia, a psicologia e assim por diante. Em minha opinião, as razões para isso não são tanto uma questão de método, mas de assunto: populações culturalmente distintas, marginalizadas e destituídas de poder. Isso faz com que a antropologia, assim como o trickster, seja, por sua própria natureza, algo difícil de definir, em permanente transformação, dedicada a corroer as distinções convencionais, inventar novas ideias e, com uma inflexão humorística.

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