Marcio Goldman é professor de Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É investigador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com um projeto de investigação sobre as religiões de matriz africana no Brasil. Entre outros, é autor de “Razão e diferença. Sobre Lucien Lévy-Bruhl”, “Como funciona a democracia. Uma teoria etnográfica da política” e “Do outro lado do tempo. Ensaios sobre as religiões de matriz africana.”

Antropologia e conhecimento orgânico: as possibilidades de um encontro cosmopolítico

Esta apresentação pretende confrontar o desafio proposto pelo pensador quilombola Antonio Bispo dos Santos ao pensamento ocidental em geral, e ao pensamento antropológico em particular, quando se recusa a equiparar o conhecimento que designamos como tradicional (e que ele chama de “orgânico”) com aqueles acadêmicos, ou “sintéticos”, como ele preferir. Trata-se de refletir sobre os efeitos que o que poderíamos chamar de “encurtamento” da distância entre o conhecimento acadêmico e o não-acadêmico (causado em particular, mas não apenas, pelas políticas de ação afirmativa) tem e, principalmente, poderia ter na prática antropológica. Para isso, examina perspectivas antropológicas recentes sobre a relação entre estes modos de pensar, confronta a posição de António Bispo dos Santos com os debates tradicionais e questiona sobre o significado de uma antropologia que reconhece a simetria —mas não a equivalência!— entre as suas práticas de conhecimento e aquelas que propõe investigar.